Como criar uma barreira automática para a verdadeira visão.

Sobre o conceito de Não Julgamento, em Mindfulness

“Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes”, é melhor do que “ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Já notou como temos opiniões automáticas formadas sobre tudo? Tão automáticas que parecem a “verdade verdadeira”. E “ai” de quem venha discutir sobre um julgamento automático baseado em evidências retiradas de meros fragmentos que enxergo num dado momento sobre alguém e sobre uma situação… Não estou aqui para julgar essa nossa tendência… afinal, quem nunca julgou?

Esse nosso automatismo torna dessa atitude proposta pelo Mindfulness um grande treino mental instante a instante – a atitude do não julgamento. Aí você abre um livro do Jon Kabat-Zinn e se depara com a seguinte definição para Mindfulness: “A consciência que surge quando prestamos atenção – com propósito – no aqui e agora e sem julgamentos”. Para mim, essa última parte da frase é mesmo a mais profunda. 

Quando olhamos para uma uva-passa, já não olhamos com curiosidade. No automático, julgamos que já sabemos o que ela é… porque em algum momento já a vi e talvez lá longe, talvez na infância, experimentei e julguei desagradável… e assim ela é rotulada, talvez para sempre.

Talvez por isso a famosa “prática da uva-passa” presente na maioria dos programas de Mindfulness, nos ajude a começar a refletir sobre a definição de Mindfulness, sobre os conceitos de não julgamento, de mente aberta de principiante… quanto mais aberto a essa simples experiência você estiver, mais você vai descobrir sobre o funcionamento da automático da mente. Sobre a forma mecânica e sem consciência de julgar as experiências da vida nos roubam a nitidez de ver a vida como ela é, em detalhes, em plenitude.

Esse julgamento automático é ainda mais impactante quando notamos que aplicamos isso às pessoas à nossa volta. Deixamos de ouvir quem mais amamos, em certas situações, pelo julgamento de que: “ah… fulano? Fulano, eu conheço, eu sei, pela minha experiência passada, que ele é assim ou assado… certeza que ele não muda! Nem vem falar comigo, fulano, eu já te conheço, já sei o que você pensa!”.

E é assim que nos fechamos para a empatia, para o crescimento nos relacionamentos, para a conexão social que alimentaria o nosso cérebro de novas percepções, de novos olhares possíveis. É assim também que acatamos os julgamentos de (auto)crítica mais cruéis e sabotadores, sem nos darmos conta.

Por agora, não vamos tentar mudar nada… vamos treinar a habilidade de apenas notar esse movimento mental de julgar, de criar barreiras. Assumir esse olhar de “eu observador” da nossa mente julgadora. Julgamentos são velhos hábitos mentais adquiridos ao longo do que chamamos de vida, mas como tem origem em fragmentos da visão, não têm consistência e acabam por se dissipar só por serem notados, vistos de frente, com humildade e nitidez. Mas, tomar consciência desse automatismo não parece fácil, requer treino, requer disponibilidade para abrir-se a novas respostas. Você está pronto para essa imensidão de possibilidades que é a atitude de não julgamento? Está pronto para remover a barreira de te impede de ver a verdade da vida?

Dr. Gabriela Kühni

A minha missão é ajudar as pessoas a se lembrarem de uma essência que é comum a todos, a paz.

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