Sobre o conceito de Aceitação em Mindfulness.
O que vem à mente quando falo em aceitação? É sobre resignação passiva? Ficar apático e insensível à vida? Sem opinião?
Venho aqui te dizer que tem outro jeito de perceber esse conceito de aceitação e que se incorporada, essa nova percepção pode transformar sua forma de se relacionar com as dores do mundo e com as suas próprias.
Aceitação é a palavra que usamos para definir uma das atitudes básicas no treino mental de Mindfulness. Em resumo, significa perceber as coisas como são, admitir o que não está sob seu controle e encontrar meios sensatos de se relacionar com ela.
Isso quer dizer não ação? Às vezes, o mais sensato é mesmo sair de cena, mas até isso já é uma ação. Quando cultivamos a aceitação, temos uma ferramenta que serve como uma lente de aumento para a experiência, seja ela agradável ou desagradavel e até mesmo dolorosa. Eu tiro da frente o véu dos meus julgamentos do que eu acho que é melhor para mim e para o mundo e me entrego à confiança de que toda situação pode me ensinar uma nova percepção e que nada deve ser rejeitado. Eu descubro que não preciso fugir da dor para me relacionar melhor com ela e responder de forma mais coerente com meus valores em vez de reagir no piloto automático, com birras e resistências que só acrescentam sofrimento, prolongam e aumentam a dor.
Pode parecer difícil, mas é treinável e é um compromisso para uma vida inteira. E por que vale a pena entrar nesse treino? Vale muito, porque é de libertação a sensação experimentada. Como assim? Quando deixo de me apegar à ideia de achar que as coisas tem que se manifestar exatamente do jeito que sonhei para que eu seja feliz, eu deixo de condicionar minha felicidade a essa expectativa e me abro para a vida e seu desdobramento, aceitando que esse desenrolar da vida não necessariamente está contra mim, mesmo quando as coisas parecem ir muito mal. É como se tentasse segurar uma corda com muita firmeza para tentar puxá-la na direção oposta e de pronto, solto essa corda e essa necessidade de controle e assim dou um alívio para minha mão já machucada. A partir daí tomo consciência da experiência como ela é, independe se ainda a julgo agradável, dolorosa ou neutra e permito que as coisas sejam como são. Afinal, me dou conta de que tudo é o que é, mesmo sem a minha permissão. E é aí que se torna possível habitar o momento presente, em quietude e sabedoria, para só assim tomar atitudes ou optar por calar-se.
Esse relacionamento quieto com esse momento presente, que na verdade é atemporal, é que influencia o caráter do instante seguinte, ou seja, podemos moldar o futuro ao cuidar do presente, mas de um lugar de leveza e sabedoria e não de resistência, controle e sofrimento. Experimente considerar aceitar as coisas como são agora e veja como o momento seguinte será diferente, agora mesmo.
Ok, vamos considerar que está entendido que a não aceitação prolonga o sofrimento por fomentar resistência e tentativa de controlar o que não está sob controle. Mas sejamos realistas: quanto maior parece a dor, maior parece o monstro e maior parece a dificuldade de aceitação. E está tudo bem com isso, sejamos gentis conosco mesmos. Quanto mais é importante para nós e mais dor provoca o problema (por exemplo, a perda de um ente querido), mais difícil é a aceitação. Aceitar algo assim, pode até trazer culpa, quando não entendemos bem o conceito de aceitação e esta pode ser a origem de um luto crônico, um sofrimento mais que prolongado. Pode demorar muito tempo até você vir a aceitar certas questões difíceis e traumáticas. Às vezes é preciso experimentar a negação, a raiva, a fúria, por um tempo… e às vezes é percebido o caminho de enfrentar e aceitar a sua dor.
O desafio é perguntar-se sinceramente, “existe aqui um aprendizado, então para que estou a passar por essa situação? Será que é possível ver além das cenas que tenho percebido nesta experiência? Será que posso acessar respostas para ações baseadas na atenção plena, na quietude, no coração, em algum tipo de inteligência emocional, em vez de reagir automaticamente e auto destrutivamente a uma situação que penso que não posso aceitar?